SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Centenas de casas destruídas, carros virados, campos inteiros de escombros e inundações generalizadas. Com máscaras e trajes protetores brancos, homens carregam cadáveres em bolsas verdes sobre a plataforma de um caminhão. Alguns moradores, ainda aturdidos pela tempestade, saem pelas ruas arrastando malas com o que restou de seus pertences. Para completar, saqueadores se aproveitam do caos.
O furacão Dorian soprava com intensidade de categoria 5 –ventos acima de 252 km/h– quando se instalou entre a noite de domingo (1º) e segunda-feira (2) sobre o norte das Bahamas, onde deixou uma destruição inimaginável.
A extensão do dano provocado pela tempestade no arquipélago começava a ser conhecida nesta quinta (5), à medida que as equipes de socorro conseguiam percorrer a área para resgatar sobreviventes e levar ajuda às vítimas.
O primeiro-ministro das Bahamas, Hubert Minnis, disse que o furacão deixou uma “devastação geracional” e ao menos 23 mortos, embora essa cifra ainda deva aumentar.
De acordo com Herve Verhoosel, porta-voz do Programa Mundial de Alimentos, órgão ONU, as projeções realizadas antes do impacto do furacão indicam que mais de 76 mil pessoas nas ilhas Ábaco e Grande Bahama podem precisar de ajuda humanitária.
Por isso, a ONU enviará oito toneladas de alimentos às Bahamas e destinará US$ 5,4 milhões (cerca de R$ 22,2 milhões) a uma operação de emergência de três meses para ajudar 39 mil pessoas.
Companhias de cruzeiros, como Royal Caribbean e Disney Cruise Line, prometeram milhões de dólares em fundos para ajudar as operações de emergência em um de seus destinos mais visitados.
Uma estimativa preliminar da consultoria Karen Clark & Co., especializada em gerenciamento de riscos, apontou que o total das perdas somaria, incluindo interrupção de negócios, US$ 7 bilhões.
O quadro, porém, não se restringe a comida e verbas. Depois de se reunir com o premiê, o secretário-geral adjunto para Assuntos Humanitários da ONU, Mark Lowcock, disse que o país também necessita com urgência de abrigos, água potável e remédios. “É um inferno por todos os lados”, disse Brian Harvey, um canadense que vive em Ábaco. “Precisamos sair daqui. Já se passaram quatro ou cinco dias, é hora de ir embora.”
Steven Turnquest, que foi da cidade de Marsh Harbour para a capital Nassau com seus filhos de quatro e cinco anos, afirmou ter sorte de estar vivo. “Vejo meus filhos e agradeço a Deus. Peço a ele que me leve, mas não leve meus filhos. Sobrevivi ao furacão me segurando em uma porta.”
A Guarda Costeira dos EUA e a Marinha Real britânica auxiliam no transporte de sobreviventes e provisões de emergência à medida que as águas das inundações retrocedem.
Na Grande Bahama foram usadas motos aquáticas, botes e helicópteros para retirar vítimas das casas inundadas ou destruídas pela tempestade. Segundo a guarda costeira americana, 135 pessoas foram resgatadas nesta quinta.
Ramond King, outro sobrevivente, viu os agressivos ventos de Dorian arrancarem o telhado de sua casa nas ilhas Ábaco, depois atingindo a casa de um vizinho, cuja estrutura foi desprendida da terra. “‘Isso não pode ser real, isso não pode ser real'”, disse King, lembrando-se dos pensamentos que surgiram naquele momento. “Nada está aqui, nada. Tudo se foi, sobraram apenas corpos”, disse ele, enquanto examinava os destroços de sua modesta casa.
Com os telefones fora de funcionamento em muitas áreas, moradores publicaram listas de parentes desaparecidos nas redes sociais.
Após atingir as Bahamas, Dorian seguiu rumo à costa Leste dos EUA, agora como um furacão de categoria 2 –com ventos entre 154 km/h e 177 km/h. No início da noite desta quinta, o Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC, na sigla em inglês) informou que Dorian soprava com ventos máximos de 165 km/h. Situava-se a 75 km de Myrtle Beach, na Carolina do Sul, deslocando-se para o nordeste a 17 km/h.
A aproximação da tempestade causou enchentes, destruiu casas e deixou cerca de 200 mil pessoas sem eletricidade nos estados da Geórgia e da Carolina do Sul, de acordo com as concessionárias de energia.
O nível da água subiu rapidamente e invadiu ruas de Charleston, na Carolina do Sul. Os fortes ventos derrubaram árvores, semáforos e postes de luz. As ruas estavam desertas, e a maioria dos comércios tinham as janelas tapadas.
Segundo as autoridades, as inundações podem ganhar ainda mais volume e é provável que os ventos fortes alcançassem o sudeste do estado da Virgínia na noite desta quinta.
O Dorian provocou ao menos três tornados na região. Um deles, na Carolina do Norte, danificou dezenas de trailers em um acampamento na cidade de Emerald Isle, mas ninguém ficou ferido, informou o jornal News & Observer.
“É um furacão muito imprevisível, muito lento e muito forte. Mas estamos muito bem preparados”, disse o presidente Donald Trump. “Pode ser que os Estados Unidos tenham um pouco de sorte a respeito do furacão Dorian, mas, por favor, não baixem a guarda”, completou.
O líder republicano se envolveu em uma polêmica ao apresentar um mapa alterado da rota do furacão, que apontava uma trajetória no sentido do estado do Alabama. A informação dada por ele foi corrigida pelo NHC.
As autoridades declararam estado de emergência em grande parte da costa Leste do país. O Pentágono informou que 5.000 membros da Guarda Nacional e 2.700 militares estão prontos para atuar em caso de necessidade.
Governadores da região pediram aos moradores que levassem os avisos a sério. Pelo menos quatro mortes relacionadas ao preparo para evacuação já foram relatadas.
Na Carolina do Norte, um homem de 85 anos caiu de uma escada enquanto montava barricadas ao redor de sua casa devido ao Dorian, informou o governador do estado. As outras três pessoas morreram no condado de Orange, na Flórida, segundo o gabinete da prefeitura local.
O estado da Flórida, aliás, saiu em grande medida ileso da passagem do furacão. “Tivemos sorte na Flórida. Muita, muita sorte na verdade”, disse o presidente Trump.